Análise da propaganda "Mansão Sky" à luz da intertextualidade
A intertextualidade em Mansão Sky e a relação com Thriller, de Michael Jackson
Fundamentos teóricos para a compreensão da intertextualidade
A leitura e a produção de textos, sobretudo multimodais, são atividades fundamentais para a inserção do
individuo em seu meio, para sua interação com as diversas fontes de informação e
atividades sociais, principalmente em uma sociedade centrada em textos de várias significações,
que requerem do leitor habilidades diferenciadas para compreender textos, tanto verbais
quanto não-verbais.
Consideramos que a leitura está relacionada à compreensão; trata-se de um processo
de construção de sentidos, em que, na interação leitor/texto/autor, o leitor participa
ativamente. Nesse processo, a produção de sentido está submetida à situação
comunicativa, ao contexto em que se insere e às inferências realizadas pelo leitor.
O fenômeno da intertextualidade é, segundo Bazerman (2007, p. 92), “uma das bases
cruciais para o estudo da prática da escrita”. Assim, conceitos como os de Bakhtin
acerca desse tema são fundamentais para o entendimento das práticas de produção
textual. Ao introduzir, em seus estudos de linguagem, o conceito de atitude responsiva
ativa, Bakhtin revela a amplitude da atividade intertextual, uma vez que lemos e
escrevemos em resposta a uma leitura e escrita precedente, relacionando ideias,
retomando conceitos.
O termo intertextualidade não aparece na obra de Bakhtin (FIORIN, 2006;
BAZERMAN, 2007). No entanto, seu postulado acerca do dialogismo deixa clara a
ideia de que um texto não pode ser compreendido isoladamente, devido ao caráter
interativo da linguagem humana.
Assim, todo texto somente se completa quanto à sua
significação quando relacionado a outros textos.
Ao tomar como base de seus estudos de linguagem o enunciado, Bakhtin afirma que
este parte de uma atitude responsiva ativa, observando a existência de uma cadeia de
enunciados que se vinculam por algum tipo de relação, uma vez que um respondente
não é o precursor das ideias que veicula, não rompe o “eterno silêncio de um mundo”
(BAKHTIN, 2000, p. 291). Afirmando, também, que a fala só existe na forma concreta
dos enunciados do indivíduo, enfatiza a verdadeira comunicação verbal: o diálogo. Este,
em suas relações - pergunta-resposta, asserção-objeção, etc., - só é possível na
comunicação verbal, não sendo “gramaticalizável”, uma vez que depreende a presença
do outro.
Observamos, assim, que mesmo não utilizando o termo intertextualidade, Bakhtin
defende a ideia de uma linguagem baseada na interação, dando sustentação aos estudos
literários de Julia Kristeva, na década de 60, responsável pela introdução dessa
nomenclatura. Koch et. al. (2008) elucidam a visão de Kristeva, explicando que todo
texto se constitui de intertextos, “numa sucessão de textos já escritos ou que ainda serão
escritos” (KOCH et. al, 2008, p. 9).
Clique e veja o vídeo que influenciou a propaganda Mansão Sky:
Sobre o vídeo clipe
Thriller foi lançado em 30 de novembro de 1982, através da Epic Records, nos Estados Unidos, e é citado até hoje como um dos melhores discos de todos os tempos.
Em dois meses de lançamento, chegou ao topo da parada americana e recebeu o prêmio de melhor do ano. Foi o álbum mais vendido no mundo: cerca de 65 milhões de cópias. Sucesso de público e de mídia, ganhou oito Grammys.
Na tradução, Thriller significa terror. A música diz: "Isto é terror / noite de terror / e ninguém vai te salvar". O sucesso de Thriller se explica pela atuação do astro Michael Jackson, e também a superprodução de clipes, explorando gêneros musicais como pop, pop rock, rock, funk, soul, rhythm and blues e dance pop.
Um dos primeiros a usar vídeos para divulgação do trabalho, Thriller foi considerado revolucionário e forçou a MTV a quebrar sua política de não exibir artistas negros em sua programação. A partir deste clipe, mudaram a maneira de pensar, produzir e vender discos - forma que é utilizada ainda como mola mestra dos lançamentos atuais.
Com Thriller, Michael Jackson tornou-se o maior ídolo do planeta e, após sua morte, em 25 de junho de 2009, em Los Angeles, na Califórnia, as músicas do álbum voltaram ocupar o topo das paradas musicais.
Clique e veja a propaganda Mansão Sky:
Quadro com as correlações de intertextualidade e interdiscursividade
Fonte: https://sites.google.com/view/giseldacosta/disciplina-2023?authuser=0
Podemos elencar, de acordo com a teoria da intertextualidade e da interdiscursividade, que existem os seguintes elementos onde podemos identificar a relação dos clipes:
Personagens principais: citação indireta - tanto Gisele quanto Michel são monstros: este é um zumbi e aquela é uma vampira.
Música: citação direta, pois é a música Thriller de Michael Jackson é mesma utilizada utilizada nos dois clipes;
Mansão: citação indireta, pois as construções são diferentes no texto base e no texto influenciado;
Personagens da literatura clássica de terror: citação indireta, pois não aparecem exatamente os mesmo monstros.
As cores: citação direta e indireta, pois o ambiente sombrio está presente nos dois clipes. As roupas de Michel e Gisele também são da mesma cor, porém com uma inversão: predominância do preto na roupa da atriz e maior parte da roupa do cantor é preta.
Os dois personagens principais à espera de algo: interdiscursividade, pois ambos esperam no escuro por alguém.
Sons fora do enquadramento, como uivos, sons de vento, urros e ranger de portas: citação direta, pois em ambos clipes podemos ouvir.
No comercial analisado, com 60 segundos de duração, a trilha sonora presente é Thriller, de autoria de Michael Jackson e grande sucesso no ano de 1982. O trecho utilizado da canção descreve uma
cena de terror, com um ser diabólico à espreita, uma pessoa que fica paralisada de medo em meio à noite do terror (diz a letra: It’s close to midnight and something evil’s lurking in the dark / Under the moonlight you see a sight that almost stops your heart / You try to scream […] as horror looks you right in between the eyes, you’re paralised / ‘Cause this is thriller, thriller
night). As imagens simbólicas utilizadas no comercial – a canção de Michael Jackson e a imagem da modelo Gisele Bündchen – sugerem ao consumidor que a única saída para ter um bom serviço de televisão a cabo é assinar Sky.
O viés intertextual da canção e do roteiro sugere encontra a personagem de Gisele Bündchen, que aguarda o funcionário da empresa entregar um produto que possibilite a ela sintonizar a Sky em sua televisão. A ação acontece em uma mansão escura de aspecto abandonado, onde um representante da Sky chega e logo é recebido pelos moradores: um mordomo sem cabeça, uma aparição fantasmagórica, um esqueleto, quadros que movem os olhos e diversos símbolos macabros que remetem à morte e ao terror. As cenas relacionam-se diretamente à letra da canção de Michael Jackson, que descreve algo à espreita na escuridão (como os quadros que
movem os olhos) e visões assustadoras.
Além das imagens, cenários e personagens, vários elementos do campo sonoro do comercial remetem
ao universo dos filmes de horror. Além da música, segundo Rodrigo Carreiro (2011), a voz e os efeitos sonoros são fundamentais para criar as sensações emotivas no espectador. Na peça publicitária em questão, desde o início até o ponto máximo de tensão do enredo, ouvem-se sons fora do enquadramento, como uivos, sons de vento, urros e ranger de portas. O ápice do terror no comercial (no ponto 0:40) é quando a personagem ameaça morder o pescoço do funcionário da Sky tal qual uma vampira. Nesse momento, ouve-se um grito feminino. Ao invés da mordida, ela o beija na face e lhe agradece a entrega.
Referências
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad.: Maria Ermentina Galvão G. Pereira.
São Paulo: Martins Fontes, 2000.
BAZERMAN, C. Gênero, Agência e Escrita. HOFFNAGEL, J. C.; DIONÍSIO, A. P.
(orgs.). São Paulo: Cortez, 2006.
BAZERMAN, C. Escrita, Gênero e Interação Social. HOFFNAGEL, J. C.; DIONÍSIO,
A. P. (orgs.). São Paulo: Cortez, 2007.
KOCH, I. V. G.; BENTES, A. C.; CAVALCANTE, M. M. Intertextualidade: diálogos
possíveis. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2008.
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